sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Nós e T.U: Alguma História

Em 2015 nosso Teatro Universitário completa 50 anos. Porém, a história das atividades teatrais da e na UFC tem bem mais de meio século. Em 1949, seis anos antes da instauração da Universidade, já existia na Faculdade de Direito um Teatro Universitário, grupo precursor do Modernismo no Teatro Cearense, sob a direção de Waldemar Garcia.
E o próprio prédio do Teatro Universitário, inaugurado por iniciativa de B. de Paiva em 26 de junho de 1965, é também anterior à sua instalação como espaço cênico da UFC, pois resulta da reforma do antigo Teatro Santa Maria, criado nos anos 1930. De 1937 a 1963 o espaço que em 1965 passaria a se chamar 1965 Teatro Universitário foi o antigo Teatro Santa Maria (então pertencente ao Educandário Santa Maria), mantido por Laís e mais duas de suas irmãs da família Ferreira Lima.

De 1937 a 1945, período ditatorial do chamado Estado Novo, em que Getúlio Vargas esteve na Presidência, houve, como política estatal, um certo incentivo à absorção das artes pelo currículo escolar, sobretudo a música, devido a um projeto capitaneado pelo maestro Villa-Lobos. O canto coral, então, se disseminou pelas instituições escolares brasileiras em uma disciplina denominada Canto Orfeônico. As irmãs Ferreira Lima, que sempre demonstraram sensibilidade ao movimento artístico, patrocinando eventos no âmbito da escola e dispondo espaço aos artistas locais, haviam construído nas dependências do Ginásio Santa Maria um teatro que passou a ser chamado de Teatro Santa Maria. A própria denominação da escola, homenagem à Maria, mãe de Jesus, refletia a formação, de rígidos parâmetros católicos, que as diretoras comandavam. Daí os critérios na seleção das temporadas teatrais e dos folguedos populares (principalmente o pastoril) que ocupavam a pauta do teatro.

A primeira referência de que se tem notícia na imprensa acerca de apresentações no Teatro Santa Maria é de 17 de janeiro de 1937, com a peça O Paraíso, de Carlos Câmara. Neste teatro, apresentavam-se em datas festivas os alunos (sobretudo as alunas) mas também atores semi-profissionais em temporadas destinadas às famílias do então bairro residencial, o Benfica. No repertório, peças sacras (sobretudo o Mártir do Gólgota) e outras de caráter religioso e de mensagem defensoras da moral e dos bons costumes. Havia comédias, também, mas somente as de cunho leve, que não agredissem os padrões éticos e a moralidade vigente, na época, E assim as irmãs Ferreira Lima mantiveram o teatro Santa Maria por quase três décadas, de 1937 a 1963.

Em 1955, a Universidade do Ceará (que depois se transformaria em Universidade Federal do Ceará) foi instalada, por iniciativa do Professor ( e primeiro Reitor) Antônio Martins Filho. E surgiu também em um Teatro, numa solenidade do realizada no Teatro José de Alencar. A partir da instalação da Universidade, o Benfica começou a se constituir não mais como um bairro residencial mas como campus universitário. A principal avenida do bairro, que da 13 de Maio até Avenida Duque de Caxias se chamava Avenida Visconde de Cauípe, passou a se denominar, no final dos anos 1970, como Avenida da Universidade, já que muitos imóveis se transformaram em prédios públicos vinculados ao patrimônio da UFC.

Em fins dos anos 1950, impressionado com atividade artística que testemunhara em sua recente viagem aos Estados Unidos, Martins Filho decidiu criar espaços e atividades de arte. Inaugura nas dependências da Reitoria em 1959 a Concha Acústica. Funda, por essa época, o Museu de Arte Universitário do Ceará (MAUC) e segue incentivando, já nos anos 60, a aparição de corais até que em 1960 cria o Curso de Arte Dramática. Por sugestão de Edmundo Moniz, então diretor do Serviço Nacional do Teatro (órgão federal sediado no Rio de Janeiro), Martins Filho convida, para organizar e dirigir o CAD, o teatrólogo José Maria B. de Paiva, cearense que desde 1954 radicara-se no Rio de Janeiro onde integrara a equipe de jovens encenadores do Teatro Duse, sob a direção de Paschoal Carlos Magno.

O CAD abre seu primeiro processo de seleção em 1960, instalado em uma casa (alugada) à rua Guilherme Rocha, defronte à Praça em que se situa o Liceu do Ceará. Em 1964, B. de Paiva sugere ao Reitor Martins Filho a compra de uma sede para o Curso de Arte Dramática e propõe o espaço que então abrigava o Ginásio Santa Maria. Começam as reformas no edifício e em junho de 1965 é inaugurado o Teatro Universitário (ainda não era Teatro Universitário Paschoal Carlos Magno).

O projeto arquitetônico é dos arquitetos Neudson Braga e Liberal de Castro, o trabalho cenográfico de J. Figueiredo e Helder Ramos, a orientação de iluminotécnica de Lamartine e Alico e a decoração (máscaras) de J. Figueiredo e Breno Felício. O teto de gesso e as luminárias da sala de espera, uma colaboração de Hildeberto Torres. O espelho do hall de espera e o divã foram retirados do porão da Concha Acústica e pertenceram ao espólio da família Gentil. E o palco acoplado à frente do antigo palco do teatro Santa Maria vem a ser o tablado onde foi feito no TJA o Auto da Compadecida, em 1960, peça de estreia do Curso de Arte Dramática.

A 26 de junho de 1965 inaugura-se, enfim, o Teatro Universitário A primeira peça apresentada é O Demônio Familiar, de José de Alencar, sob a direção de B. de Paiva, tendo no elenco Elizabeth Gurgel, Zilma Duarte, José Maria Lima, Walden Luiz, Maria Nilva, Adelaide Araújo, Edilson Soares e João Antônio Campos.

A partir de então o Teatro da UFC (também conhecido na década 1960 como Teatro de Bolso) sedia inúmeras temporadas não somente de encenações oriundas do CAD, mas também de grupos locais, nacionais e até estrangeiros.

Como um dos epicentros da contracultura e da resistência à ditadura militar, de 1965 até a abolição da censura prevista pela Constituição de 1988, o T. U. viveu a transgressão e encarou a repressão. Além de ter sediado o Curso de Arte Dramática, de 1964 a 2009, o Teatro Universitário ensejou intensos movimentos culturais de Fortaleza, da década de 1960 ao início do século XXI, com programação de peças, concertos, recitais, conferências e shows diversos.

Desde 29 de agosto de 1980 o espaço passa a se chamar Teatro Universitário Paschoal Carlos Magno.

Hoje, fiel aos seus ideais, esse lugar cinquentenário reafirma a sua vitalidade embasando a militância de inúmeros núcleos de trabalho artístico e em especial a formação dos oriundos da Licenciatura em Teatro que se instaurou a partir de 2010 no nosso Instituto de Cultura e Arte.

No Teatro Universitário atual vivemos uma nova fase histórica. Nele passado, presente e futuro formam um tempo-trio que a um só tempo nos perpassa. Nele nós não somos apenas personagens e atores; não apenas tomamos as palavras e emprestamos a elas as nossas bocas. Nele nós não apenas representamos a história. Nele, nós somos a própria história. Nós, aqui e agora, somos a trans-história desse Teatro.


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