No princípio ela era o verbo, a fala das mocinhas casadoiras e das vilãs que nos anos de 1930 a 1950 semeava a imaginação dos ouvintes de novelas da pioneira Ceará Rádio Clube. Depois, fiat lux. Luz, câmera, ação e aquela voz fez-se corpo quando em novembro de 1960 se inaugura a televisão em Fortaleza e a veterana radioatriz da velha PRE-9 protagoniza na TV Ceará Canal 2 (com Emiliano Queirós/foto) a primeira telenovela cearense, Poeira Vermelha, escrita por Guilherme Neto.
A que personifica esses pioneirismos como intérprete de dramaturgias radiofônicas e televisivas é Laura Santos (fotos), atriz cearense que de 1930 a 1936 fez teatro, tendo trabalhado no Grêmio Dramático Familiar, sob a direção de Carlos Câmara, e em montagens de outros grupos, contracenando com Gasparina Germano, José Júlio Barbosa, Altair Ribeiro e José Lima Verde.
Ela que é de 29 de setembro de 1916 vai agora em 2013 comemorar seus 97 anos. Quem vê aquela senhora saudável e lúcida indo vez em quando tomar banho de mar na Praia de Iracema não imagina que está diante de uma profissional de sucesso, reconhecida como estrela do chamado Teatro Cego (o radioteatro) por, pelo menos, trinta anos. Foi ídolo, inclusive com fâ-clube. Consagrou-se como par romântico das personagens de João Ramos e rival das de Maria José Braz. Integrou o elenco de inúmeras radionovelas como “Penumbra”, “Fatalidade” e mais “A Intrometida”, de Lopes del Rincon, “Ciúmes”, de G. Alves, “Penumbra”, de Amaral Neto, “Renúncia” e “A Volta de Maria Alaô”, de Fernando Silveira.
Em 1969 e 1970, Laura Santos atua também em novelas de rádio de outros renomados escritores (Aldo Madureira e Raimundo de Oliveira) como “Sangue na Arena”, “O Estranho Mundo de Teresa”, “Mais Forte Que o Ódio”, “Rua das Almas Tristes”, “A Eterna Canção do Adeus”, “E o Mundo me Pertence” e “A Mansão do Ódio”. Nestas tive a chance de estrear como radioator e pude, então, adolescente, contracenar com ela, João Ramos, Iracilda Gondim, Miriam Silveira, Eliete Regina, Ângela Maria, Isis Martins, Menezes Carvalho, Gonzaga Vasconcelos, Djacir Oliveira, Ivone Mary, Glice Sales, Pedro Américo e Zé Humberto Cavalcanti, dentre inúmeros outros atores e atrizes.
Saudando a quase centenária atriz Laura Santos, devo também saudar todos esses. Fazem parte da minha formação. Neles reconheço um patrimônio de conhecimento, o domínio de uma técnica de expressão que cabe ao ator contemporâneo estudar, reprocessar. Viva!
texto de Ricardo Guilherme
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