Aqui estou eu. Eu sou eu. Mas esse eu não é apenas eu. Esse eu são dois. Esse eu somos nós dois na berlinda: Francisco e Marcus. Meu nome é Marcos Miranda mas meu nome não é Marcos Miranda. Meu nome é Marcos Viana mas meu nome não é Marcos Viana. Meu nome não é nem Marcos nem Viana. Meu nome é Francisco das Chagas Portela de Miranda. Mas já fui Marcos Viana e hoje – apesar de ser Francisco – sou também, sim, Marcos Miranda. Mas nasci Francisco das Chagas Portela de Miranda.
Em Parnaíba, Piauí. Não, não foi nem propriamente em Parnaíba. Na minha identidade tem “local de nascimento”: Parnaíba. Mas eu não sou de Parnaíba. Nasci em um distrito de Parnaíba chamado Cocal, no dia 10 de março de 1929. Naquele tempo Cocal era um povoadozinho da estrada de ferro; hoje é uma cidade. Mas quando eu morei lá, Cocal era só areia, como se fosse areia de praia, um lugarejo, assim, arenoso, de uma areia profunda, muito extensa, um lugar no meio do mundo. Eu sou de lá, desse areal, filho dessa argila, e fiquei com os pés fincados na areia até os 12 anos de idade mais ou menos. Depois, fui pra Parnaíba, cidade grande pros meus olhos de menino. E em 1946 me transferi pra Fortaleza, cidade enorme pros meus olhos de adolescente. Vim aqui pro Ceará pra estudar, fazer o curso que a gente chamava na ocasião de científico. E foi aqui, como estudante que, no comecinho da década de 50, eu comecei a me interessar em fazer essa coisa que há 50 anos eu faço: teatro.
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