sexta-feira, 19 de junho de 2015

Curso de Arte Dramática

No final da década 1950, motivado pela programação cultural que testemunhara no âmbito universitário por ocasião de uma viagem aos Estados Unidos, o Reitor Antônio Martins Filho decide criar na Universidade do Ceará, (posteriormente Universidade Federal) espaços e núcleos de produção artística. Neste sentido, entre as suas inúmeras realizações, toma a iniciativa de ensejar a fundação do Curso de Arte Dramática (CAD).

Por indicação de Edmundo Moniz, diretor do Serviço Nacional do Teatro (órgão federal sediado no Rio de Janeiro) Martins Filho convida para estruturar e dirigir o curso José Maria B. de Paiva, cearense que desde 1954 radicara-se no Rio onde integrara a equipe de jovens encenadores do Teatro Duse sob a direção de Paschoal Carlos Magno. Ainda em caráter experimental, o CAD inicia suas atividades em 15 de março de 1960, instalado no Conservatório de Música Alberto Nepomuceno que então é dirigido por Orlando Leite e funciona em prédio da Praça Fernandes Vieira (conhecida como Praça do Liceu, Rua Guilherme Rocha, 1264). Em 22 de agosto do mesmo ano, o CAD transfere-se para uma casa alugada à Rua Guilherme Rocha, 946. Ali, no tablado de uma improvisada sala de espetáculos com sessenta lugares, inaugurada entre novembro e dezembro de 1960, B. de Paiva ministra aulas de Interpretação, dirige e apresenta dramatizações de textos. Tereza Bittencourt Paiva (bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro) coordena os trabalhos de Relax e Ginástica Rítmica e J. Figueiredo (João Lázaro de Figueiredo, artista plástico maranhense radicado no Ceará) dá aos alunos noções teóricas e práticas de Cenografia. Em uma ala, no mesmo terreno, mas ao lado da casa, há também uma arena destinada a ensaios.

No programa comemorativo do cinquentenário do Teatro José de Alencar o CAD apresenta a 19 de junho de 1960 sua primeira encenação: Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, tendo no elenco alunos e atores convidados dentre os quais José Humberto Cavalcante, Jose Maria Lima, Otamar de Carvalho, Studart Dória, Almir Teles, Arimatéa Brito, Assis Matos, Nadir Sabóia, Gonzaga Vasconcelos, Leonan Moreira, Ilclemar Nunes, José Maria Cunha, Marcus Fernandes, João Falcão e Gracinha Soares (à época Gracinha Figueiredo). 

No ano seguinte, a 24 de fevereiro, pela resolução 101 do Conselho Universitário o curso é formalmente instituído. Os primeiros formandos (1963) são José Humberto Cavalcante, Edilson Soares, Marcus Fernandes, Studart Dória, Aileda Cavalcante, Gracinha Soares, Emiliano Queirós e Ilclemar Nunes.
Em 1963, B. de Paiva propõe a adoção de uma sede própria para o Curso de Arte Dramática e sugere a compra das instalações do Educandário Santa Maria, fundado pelas irmãs Ferreira Lima como Ginásio nos anos 1930, local que à época dispõe de um teatro aberto a montagens teatrais dos alunos e a temporadas de grupos locais.
Em 1964, após intervenções arquitetônicas, o antigo prédio da escola (Avenida Visconde de Cauípe, atual Avenida da Universidade, 2210,) sedia definitivamente o CAD e, a partir de junho de 1965, também o Teatro Universitário. Neste endereço conclui o curso em 1966 uma segunda turma: Walden Luiz, Marcelo Costa, Antonieta Fernandes (Antonieta Noronha), Francisco Rocha, João Antonio Campos, Maria Zulene Martins e Nilda Magno.

Com duração de seis semestres, o CAD ainda nos anos 1960 renova sua grade curricular e absorve novos professores: História Geral do Teatro (José Humberto Cavalcante, Carlos Paiva) Voz (Nadir Saboya, Waldemar Garcia e de 1961 a 1967 Marcus Miranda) Música e Ritmo (Dalva Stela Nogueira Freire), Interpretação (Marcus Miranda, de 1968 ao final dos anos 1970), Expressão Corporal (Hugo Bianchi), Estética (Eusélio Oliveira) e até Introdução à Linguagem de Televisão (Guilherme Neto).
Na década seguinte, as duas últimas cadeiras citadas são excluídas e integram-se novos nomes ao corpo docente: João Falcão (História Geral do Teatro) Edilson Soares (Improvisação), Gracinha Soares (Voz) e Paulo Tadeu Sampaio (Introdução à Comunicação).
No final dos anos 1970, já com quatro semestres, o curso se reestrutura. Betânia Montenegro assume a cadeira de Expressão Corporal (1978-2006) e Edilson Soares se efetiva como professor de Interpretação (até 2005). Em 1979, são criadas duas matérias: História da Cultura Brasileira e História do Teatro Brasileiro, ministradas respectivamente por José Carlos Matos (1979-1982) e Ricardo Guilherme. Este último (também professor de Elementos de Direção e Teoria do Teatro durante as décadas 1980 e 1990) coordena de 1979 a 1985 o Ciclo de Leituras Dramáticas (peças da dramaturgia brasileira e estrangeira lidas por alunos e atores convidados) e no começo do século XXI o Projeto Segundas Intenções (aulas-espetáculos, palestras e debates).
Com a morte de Gracinha Soares (Voz) em 1982, Glória Martins a substitui até meados da década 1990, período em que Ivonilson Borges rege esta disciplina e Elvis Matos, substituindo Dalva Stela, assume as aulas de Música e Ritmo, matéria que a partir da segunda metade dos anos noventa passa a ser ministrada pelo maestro Poti Fontenele. Valéria Albuquerque começa a lecionar a recém-criada Caracterização Teatral, em 1995. No ano seguinte, Gil Brandão passa a ser professor de História Geral do Teatro. No binômio 2007/2008, Joca Andrade (Interpretação) e Kelva Cristina Saraiva (Voz) exercem no CAD o magistério.

Ao longo de seus cinco decênios (1960-2010), dirigem o CAD: B. de Paiva (1960-1967) Marcus Miranda (julho/1968-outubro/1969), Dalva Stela Nogueira Freire (1969/1970), J. Figueiredo (anos 1970), Edilson Soares (do final da década 1970 a 2005) e Gil Brandão (de 2006 à atualidade).
O CAD entre o final da década de 1960 e o início da seguinte atua vinculado à Escola de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará. Em meados dos anos 1970, porém, já pertence ao organograma da Pró-Reitoria de Extensão e nesta condição administrativa se mantém até os primeiros anos do século XXI quando é criado o Instituto de Cultura e Arte (ICA), e, então, a este órgão fica subordinado.
Durante a década 1990, nova redução de carga horária no curso. Mesmo com três semestres, o CAD, considerada a densidade de seu currículo, continua sendo reconhecido pelo Ministério da Educação e pelas instâncias do Ministério do Trabalho como apto a capacitar e profissionalizar atores.

Atualmente, tendo o ICA se transformado em unidade acadêmica em nível de terceiro grau e uma vez criado em 2009 a Licenciatura em Teatro ( anteprojeto dos professores Ângela Linhares, Ricardo Guilherme e projeto de Gil Brandão, Orlando Luís de Araújo e Elvis Matos), o CAD passa a ser gerido pelo colegiado desse novo curso cuja primeira turma inicia estudos em 2010.


Texto de Ricardo Guilherme

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