TEATRO EM FORTALEZA - Anos 1920
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Gasparina Germano |
Década de 1920: época áurea do Teatro Cearense? Os Teatros eram bastante freqüentados? O Teatro Cearense era a principal forma de lazer?
Durante a primeira metade do século XX os subúrbios de Fortaleza mantiveram animação cultural própria, com seus teatros de paróquia, as quermesses, os folguedos e autos dramáticos. Dos Anos 1910 e se prolongando nas três décadas seguintes, o Patronato Nossa Senhora Auxiliadora (Avenida do Imperador) manteve um pastoril, com seu elenco exclusivamente feminino.
Já na década de 1920, logo depois da fundação do Grêmio Dramático Familiar (1918) e estimulado pela repercussão da obra de Carlos Câmara, intensificou-se o movimento teatral na cidade. Alguns grupos da época: Recreio Iracema (1923), A Troupe Renascença (1924), Grêmio Pio X (1923), Grêmio Dramático São José (1927), Troupe Recreativa Cearense (1928), Grêmio dos Navegantes (1928) e a Troupe do Outeiro (1926).
Já na década de 1920, logo depois da fundação do Grêmio Dramático Familiar (1918) e estimulado pela repercussão da obra de Carlos Câmara, intensificou-se o movimento teatral na cidade. Alguns grupos da época: Recreio Iracema (1923), A Troupe Renascença (1924), Grêmio Pio X (1923), Grêmio Dramático São José (1927), Troupe Recreativa Cearense (1928), Grêmio dos Navegantes (1928) e a Troupe do Outeiro (1926).
Principais autores cearenses do período: Carlos Severo, Carlos Câmara e Silvano Serra (Destaque também para o dramaturgo Renato Viana, então radicado no Ceará, que, nos anos 1920 inicia em sua dramaturgia um processo que podemos chamar de pré-modernista)
Atores cearenses de prestígio na década de 1920: Pequeno Edson, Eurico Pinto, Augusto Guabiraba, Antônio Ribeiro, José Júlio Barbosa, Joaquim Santos, Inácio Rats. Atrizes: Maria Alice Góes, Mundinha Viana, Gasparina Germano, Zilda Sepúlveda, Gracinha Padilha.
Que tipos de peças eram montados? Tratavam dos costumes do povo cearense?
Burletas, dramas e comédias, mas com predominância do gênero cômico. Algumas peças de Silvano Serra (Mimosas Serranas, de 1927, Ideal dos Coronéis, de 1928 e Meninas de Hoje, de 1929) e de Carlos Severo (São João na Roça e Hotel do Salvador, ambas de 1923) são comédias de costumes cearenses, espécie de crônicas sobre o cotidiano de Fortaleza e do sertão que abordam os novos hábitos da sociedade em face ao processo de modernização.
Como funcionava o Grêmio Dramático Familiar? Quais os musicais do Carlos Câmara? Fale sobre estas peças e da repercusssao de cada uma delas.
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Édson Alcântara |
Com o objetivo de realizar espetáculos destinados à comunidade do bairro Joaquim Távora, o comediógrafo Carlos Câmara (1881 – 1939) funda, em julho de 1918, o Grêmio Dramático Familiar. Os integrantes do Grêmio são em sua maioria moradores do então boulevard Visconde do Rio Branco, também conhecido como o Calçamento de Mecejana, e de suas cercanias, reunidos pelo carisma do líder, por laços familiares e afetivos e, sobretudo, pelo ideal de dotar o bairro de uma infra-estrutura de lazer que o tornasse independente da programação artística sediada no Teatro José de Alencar( inaugurado em 1910) e no cine-teatro Majestic Palace (inaugurado em 1917) situados, respectivamente, na Praça Marques de Herval (hoje, Praça José de Alencar) e na Praça do Ferreira. A sede do Grêmio na Avenida Visconde do Rio Branco ( em 1918, 1919) era formada por duas casas conjugadas, de beira e bica, tendo ao fundo do quintal um tablado rústico feito de tábuas de caixotes, único local coberto além da entrada. O público ficava ao ar livre em tamboretes e cadeiras fincados na areia e trazidos pelos espectadores. Palhas de coqueiro e esteiras cobriam o palco e formavam suas paredes laterais. Em 1923, uma reforma, em construção de alvenaria, muda as condições de instalação da casa de espetáculos. Para custear intervenções no espaço e produções mais ambiciosas do ponto de vista financeiro, o Grêmio, sob a administração de José Pamplona, reúne subsídios dos sócios à renda de bilheteria e faz uso de um expediente hoje consagrado em televisão: insere conteúdo publicitário em situações dramáticas, para angariar patrocínios que garantam a manutenção das temporadas. A partir de 1920, já sedimentado, o Grêmio prescinde dessas manobras de sobrevivência e passa a depender exclusivamente de sua demanda de público. Os bondes já modificavam seus horários de funcionamento para atender à crescente afluência de espectadores. Autor das burletas A Bailarina, O Casamento da Peraldiana, Zé Fidelis, Calu Alvorada, Os Piratas, Pecados da Mocidade, O Paraíso, Os Coriscos e Alma de Artista), escritas entre 1919 e 1939, Carlos Câmara consolida as bases do que se pode chamar de Comédia de Costumes Cearenses. Como repórter do cotidiano de Fortaleza e de nossas cidades interioranas, soube documentar, com a irreverência da paródia e o emprego de uma prosódia popular, uma galeria de personagens em que pontificam almofadinhas, melindrosas e chefes políticos. Antes de estrear como dramaturgo, fora cronista de militância assídua no jornal A República da oligarquia Acioly, escrevendo a coluna Entrelinhas, em meados da primeira década do século XX. Publicara também alguns poemas e participara da vida cultural de Fortaleza como integrante do Grêmio Recreativo Estudantal (1896), sócio do Clube de Diversões Artísticas, de Papi Júnior, e presidente do Grêmio Taliense de Amadores (1897). Desde cedo, portanto, sentira o teatro, seja como militante amador, seja como freqüentador das temporadas das companhias de comédias e operetas que visitavam o Teatro José de Alencar e o Majestic Palace, na segunda e terceira décadas do século XX. Assistira à Companhia da atriz Lucília Perez que em setembro de 1910 inaugurara o nosso teatro TJA (Teatro José de Alencar) com a representação de O Dote, de Arthur Azevedo, seu comediógrafo predileto. Apesar dessa predileção e da opção pela comédia de costumes, Carlos Câmara, em entrevista ao jornal O Nordeste, de maio de 1923, confessa admiração pelo gênero Alta Comédia, cultivado por Renato Viana, e esboça a intenção de tentá-lo. Não o fez, e se o fizesse estaria contrariando a tradição de comicidade do nosso teatro, onde tentativas dessa ordem jamais superaram em repercussão a comunicabilidade de peças musicadas. Críticas, porém, não faltaram à sua dramaturgia. Houve quem reclamasse subvenções do Estado para Carlos Câmara a fim de que o Grêmio pudesse substituir as burletas por um “teatro declamado”, em que tipos sertanejos fossem eliminados para ceder espaço a temas morais , de interesse menos imediato e provinciano. Alguns articulistas locais encararam as peças do autor de A Bailarina tão-somente como estágio de um projeto cujo ápice seria um temário mais abrangente, em incursões pelos costumes do Brasil, como se a brasilidade de uma obra fosse determinada pela expansão geográfica de sua abordagem.O teatro de Carlos Câmara perscruta o homem brasileiro do Ceará no início do século XX. Em sua obra, a partir de uma ótica tipicamente cearense, aspectos rurais e urbanos se confrontam, na medida em que o autor nos mostra, em forma de revista, uma Fortaleza filtrada pelos olhares de citadinos da capital e do sertão, detectando intersubjetividades e transculturacões que revelam toda a tipologia de uma época. Carlos Câmara empresta forma humana a alguns recantos de Fortaleza, como as alamedas do Passeio Público, e a algumas preferências da população fortalezense, como o tango, o maxixe, o dramalhão e o futebol, ainda incipiente. O recurso da personificação de assuntos em voga nos logradouros da província traça assim um panorama de vozes e movimentos que, embora característicos de uma mentalidade e de um tempo específicos, transcendem historicidades porque sintetizam o dilema de um povo radicalmente sertanejo ante os apelos de modernização que a Belle Époque representa. Mais do que caracterizar aspectos urbanísticos e arquitetônicos, Carlos Câmara soube revolver arquétipos de nossa cearensidade, registrando expressões, ditos, gestos e gestas populares e constituindo um patrimônio cultural que resgata o anedotário anônimo e o desenvolve cenicamente, dando-lhe dimensões de análise antropológica. Transpondo para a cena episódios verídicos e até personagens da vida real, citados às vezes nominalmente ou criando peripécias com engenhosidade satírica, a teatrografia de Carlos Câmara revitaliza um referencial de cultura popular e as suas inúmeras remontagens comprovam não apenas seu significado telúrico e histórico mas também e sobretudo a necessidade proustiana de busca e reafirmação de uma identidade cultural perdida. Nos anos 1920, eis a teatrografia de Carlos Câmara e suas datas de estréia, no Teatro do Grêmio Dramático Familiar:
ZÉ FIDELIS (20 de fevereiro/1920)
CALU (11 de dezembro de 1920)
ALVORADA (20 de agosto de 1921)
OS PIRATAS (12 de maio de 1923)
PECADOS DA MOCIDADE (14 de julho de 1926)
O PARAÍSO (14 de julho de 1929)
Quais os principais espaços para a montagem das peças? E os mais freqüentados ?
Teatro do Centro Artístico Cearense ( 1908), Teatro José de Alencar (1910), Teatro São José (1915), Cine-Teatro Majestic Palace (Praça do Ferreira/1917), Teatro do Grêmio Dramático Familiar (Bairro Joaquim Távora/1918), Teatro Recreio Iracema (no Benfica/ 1923), Teatro da Escola Pio X (na Praça do Coração de Jesus/1923), Casa de Juvenal Galeno, auditório do Patronato Nossa Senhora Auxiliadora (na Av. do Imperador) e Teatro da Phenix Caixeiral ( Praça do Patrocínio/1905).
Fale sobre a atriz Gasparina.
Gasparina de Sousa Germano (Baturité/CE, 1918 - Fortaleza/CE, 1998) estreou no Teatro José de Alencar em 1923 sob a direção de Paurilo Barroso no bailado O Camponês Apaixonado. De 1926 a 1928, integrou a Troupe do Pequeno Edson, formada por atores mirins (Édson de Alcântara, Pedro de Alcântara, Margarida, Nadir, e as irmãs Gasparina e Lourdes Germano) que excursionou pelo Brasil e conquistou o sucesso de público e o reconhecimento da crítica especializada no Rio de Janeiro e em São Paulo, apresentando sapateado, música, declamação e cenas de curta duração. Depois, nas décadas de trinta e quarenta do século XX, manteve seu prestígio de atriz, protagonizando burletas, operetas, comédias, dramas e melodramas. Em função de seu carisma e em decorrência de sua personalidade controversa, Gasparina foi no movimento teatral cearense o que se poderia denominar de diva. A partir de meados dos anos 1950, no entanto, já sem exercer a profissão, percorreu intensos descaminhos na sua vida pessoal e em 1998 morreu, sem o devido reconhecimento e amparo de instituições públicas. Especificamente nos Anos 1920, alguns espetáculos de sua teatrografia são:
O CAMPONÊS APAIXONADO, de Paurilo Barroso
Direção do autor
Teatro José de Alencar
1923 (30/novembro)
FESTIVAL DE DANÇA, CANTO E DECLAMAÇÃO
autores diversos
Cine-Teatro Majestic
1924 (25/novembro)
OS APACHES
dança
Teatro José de Alencar
1925 (20/outubro)
ESPETÁCULOS DA TROUPE DO PEQUENO ÉDSON
Dança, declamação, canto e cenas teatrais
Excursão por cidades do interior cearense e Natal
1926
Teatro Helvética (Recife/PE),Teatro Santa Rosa (João Pessoa/PB) Teatro Deodoro ( Maceió/AL)
Teatros Trianon, Odeon (Rio de Janeiro/RJ), Politeama, Teatro República (São Paulo/SP)
1927
Teatro José de Alencar
1927 (22/dezembro)
1928 (14/janeiro, 18/outubro)
Cine-Teatro Majestic
1928 (01/fevereiro)
Teatro Glória (Sobral/CE)
1928 (15/fevereiro)
Teresina/PI, São Luís/MA, Caxias/MA, Belém/PA, Mossoró/RN (1928)
ZÉ FIDÉLIS, de Carlos Câmara
Produção: Grêmio Dramático Familiar
Teatro do Grêmio
1929
O PARAÍSO, de Carlos Câmara
Produção: Grêmio Dramático Familiar
Teatro do Grêmio
1929 (14/julho)
E sobre a Troupe do Pequeno Édson, o que teria a dizer?
Edson de Alcântara Filho (principal atuante da chamada Troupe do Pequeno Edson) nasceu em Fortaleza (abril de 1920). Sua estréia ocorre pelas mãos de Carlos Teixeira Mendes (o poeta Teixeirinha) em espetáculo no qual Edson canta canconetas cômicas, dentre as quais estão “Ditados do Ceará” e “O Farrista”, provavelmente em 1923. Em 1924, participa do espetáculo que inaugura a nova sede da Escola Pio X, com apresentação de canto e dança. No mesmo ano, forma-se a Troupe, integrada por atores mirins (Édson de Alcântara, Pedro de Alcântara, Margarida, Nadir e as irmãs Gasparina e Lourdes Germano) que atuou até novembro de 1928, apresentando, no Ceará, em São Paulo, Rio de Janeiro e cidades do Norte e Nordeste, sapateado, música, declamação e cenas de curta duração. Prestigiado pelo público e reconhecido pela crítica como “menino-prodígio”, de talento múltiplo (ator, cantor, dançarino), Edson foi a sensação da década de 1920. Algumas de suas apresentações chegaram mesmo a ser programadas por um então emergente veículo de comunicação, o rádio, e transmitidas nacionalmente. Em São Paulo/SP (1927) conquista, no Teatro República, o prêmio maior do Festival de Dança de Baile Infantil, tendo como parceira Gasparina Germano. A partir de 1929 vai residir no Rio de Janeiro. Segundo o historiador Marcelo Costa, no livro História do Teatro Cearense: “O Rio, então, devia fascinar muito mais; e é para lá que ele (Edson) vai gastar o seu talento já ameaçado pela adolescência, onde todos os talentos infantis sucumbem”. Não temos notícia de que sua carreira tenha continuado no eixo Rio/São Paulo. Pelo que se sabe, Edson, já adulto, não dá seguimento ao seu trabalho artístico. Fui informado pelo ator (da TV Globo) Roberto Bonfim, seu parente, que Edson teria tido lepra e morrido, já idoso, no interior de Minas Gerais.
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