quarta-feira, 17 de junho de 2015

O Moderno Teatro Cearense


Cena de O Demônio e a Rosa, com Diana Magalhães,
 Elza Bernardino, Geraldo Markan e Rita de Cássia Bessa, 1950
O Grupo Teatro Universitário do Ceará, fundado em 1949, encena no ano seguinte “O Demônio e a Rosa”, peça de Eduardo Campos(1923-2007), escritor que baseado na técnica expositiva de Nelson Rodrigues em “Vestido de Noiva”, introduz o teatro cearense no chamado movimento modernista. O texto, publicado em 1948, é encenado a 25 de maio de 1950, sob a direção de Waldemar Garcia, no Teatro José de Alencar.



A peça revela o drama de Rolando, coadjuvado pelo de Elga, Natália e Carlos, respectivamente primeira e segunda esposas, e amigo do protagonista. Este, atormentado pela morte da primeira mulher, sustenta o conflito básico da trama no qual estão envolvidas a realidade vivida por Rolando, a consciência deste e seus delírios.

A cena descreve três planos. No primeiro, “aparece um túmulo de linhas modernas”, segundo descrição do autor. No segundo, “um jogo de poltronas, telefone ao centro, ao fundo, um aparelho de radio”. No terceiro, uma sala de operações de um hospital.

A disposição do cenário e a experiência narrativa que a justifica denotam influencia de “Vestido de Noiva”, de Nelson Rodrigues, montada do Ziembinsky no Rio de Janeiro, em dezembro de 1943, e conhecida por Eduardo Campos antes da elaboração de “O Demônio e a Rosa”.


Na peça rodrigueana são também três os planos de ação: o da realidade, o da memória e o da alucinação. Nelson Rodrigues relata no plano real o atropelamento da protagonista e os socorros prestados. Nos demais planos surgem imagens criadas pelo inconsciente e pelo subconsciente da vítima, constituindo um acervo de impressões memorizadas e as retidas inconscientemente, para com o somatório dessas vivencias estruturar o drama.

Do mesmo modo, Eduardo Campos investiga os prismas objetivo e subjetivo dos fato expostos na peça. No primeiro plano, os elementos subjetivos: a voz da consciência de Rolando, os contatos extraterrenos de Lúcia ( morta no século passado) e Elga. No segundo plano, os dados reais: a morte de Elga, o novo casamento de Rolando (com Natália). No terceiro plano, a projeção do delírio de Rolando.

A cena final, passada no primeiro plano, junto ao túmulo, mostra o reencontro de Elga e Rolando.

Alguns recursos como a utilização do microfone nas falas especialmente soturnas de Elga e a aparição das figuras do médico e do repórter nas situações dramáticas também lembram “Vestido de Noiva”.

Apesar dos pontos coincidentes, as obras de Nelson Rodrigues e Eduardo Campos divergem dentre outros aspectos em colocações. O autor de “O Demônio e a Rosa” tende com suas personagens a personificar as transformações sociais no Brasil pós-guerra, enquanto Nelson Rodrigues procura, acima de tudo, aprofundar-se psicologicamente, aclarando a realidade objetiva dos personagens a partir da visão introspectiva destes.

O elenco da peça é formado por Gerlado Markan (Rolando) Dorian Sampaio (Carlos), Elza Bernardino (Elga), Diana Magalhães (Lucia), Rita de Cássia Bessa (Natália), Giovani Xavier (Cientista), Gentil Bittencourt (Farmacêutico), Lito Vanderley (1º homem), Geraldo Silveira (2º homem). Os figurinos são de Flavio Phebo. Os cenários, de Zenon Barreto, executados por Helder Ramos.


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